Arquitetura & Ideologia Ou A Beleza Do Mal: Articulações Entre As Vertentes Fascistas E Modernistas Europeias No Início Do Século XX.

Luiz Felipe da Cunha e Silva

Dia(s): Terças-feiras
Horário: 08:00h às 12:00h
Turmas: 1
Dep.: DPA
Tipo: Seminário Avançado
Nome da Disciplina (Cadastro SIGA): SEM. AV. PROJETO TÉC. E SOCIEDADE
Código: FAP502

Em vários de seus diálogos, Platão associa o bem e a bondade (aghatos) à beleza (kalos). Mas formas radicais de maldade tem se expressado simbolicamente através das mais puras e limpas formas da beleza. Racionalidade, pureza, despojamento, subliminaridade, estão entre as qualidades essenciais da simbólica da estética que marcou a expressão política das ideologias fascistas.

Em “Art and Ardor”, a antropóloga Cynthia Ozick propõe que o genocídio de judeus, homossexuais, e comunistas nos campos nazistas “era uma solução estética; era uma tarefa de preparar um texto, era o dedo do artista eliminando uma mancha; ela simplesmente aniquilava o que era considerado não harmonioso”.

Embora haja sinais mais do que evidentes de correlações conceituais e mesmo filosóficas entre o fascismo europeu do período e a expressão estética que caracterizou a produção arquitetônica do movimento moderno no início do século XX, é estranhamente incomum na historiografia da arquitetura o destaque deste vínculo. Mais rara ainda é a presença desta discussão na produção acadêmica posterior ao pós-guerra.

A disciplina em foco visa promover esta discussão através da análise estética das obras – nas escalas do edifício e da cidade – e dos discursos teóricos e políticos de arquitetos relevantes nesse contexto, em particular Marcello Piacentini, Giuseppe Terragni, Le Corbusier, Albert Speer e Ludwig Mies van der Rohe. Do primeiro destacamos prima facie o Distrito italiano da arquitetura do racionalismo EUR, o Palazzo della Civilta e o Arco da Vitória em Bolzano. Do segundo, a Casa del Fascio de Como, a Villa Rusticce e o Danteun. Do terceiro a Ville Savoy, a Ville Radieuse, o projeto de Chandigarh na Índia e o Plano Voisin para Paris. Do quarto, o Volkshalle (Salão do Povo), o Reichstag (Chancelaria do Reich) e a planificação da “Welthauptstadt Germania” (Capital Mundial da Germânia). Do quinto os esboços para o projeto da sede do Partido Nacional Socialista (nazista) em Berlim em 1933, o pavilhão alemão para a Feira Mundial de 1929 em Barcelona, além do edifício Seagram, em participação com Philip Johnson.

A partir dessas discussões e de leituras de obras de referência propostas na bibliografia completa da disciplina, propõe-se a reflexão quanto a possibilidade da disjunção entre os aspectos éticos e estéticos no campo ideológico no qual estão envolvidas a arte e a política.

ANDREOTTI, Libero. Art And Politics in Fascist Italy: The Exhibition Of The Fascist Revolution (1932). PhD Tesis on Art, Architecture and Environmental Studies. Massachusetts: MIT, 1989. BOBBIO, Norberto. Política & Cultura. São Paulo: UNESP, 2015. OLIVEIRA, Leonardo. Le Corbusier, Arquitetura E Política: Uma Recapitulação (1917-1944). Revista Estética e Semiótica, [S. l.], v. 11, n. 2, 2022. Disponível em: https:// periodicos.unb.br/index.php/ esteticaesemiotica/article/view/42365. Acesso em: 17 maio. 2025. ROCHA MACHADO, Fernando S. Racionalismo Italiano (1926 – 1943) e o Fascismo: Contradição ou Convergência? Dissertação de Mestrado PROPAR – UFRGS, Porto Alegre, 2004.